quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Assembleia do Povo de Deus

O que vimos foi um relato das paróquias e foranias de como foram acolhidas as Diretrizes diocesana, quais as dificuldades encontradas; especialmente quanto à prioridade fixada: Formação, Família, Juventude, para chegarmos a Renovação das Paróquias. E a partir dessa, revisão, uma nova proposta será formulada, desta vez mais amadurecida, e já iluminada pelos avanços e tropeços desses anos de intenso trabalho na diocese. Uma visão geral da Assembleia do Povo de Deus pode ser de grande proveito para os nossos diocesanos, para reflexão pessoal ou comunitária, nos conselhos, coordenações e nos encontros de grupos e serviços pastorais.
Recordando o caminho feito
Sob o impacto da Conferência de Aparecida, que aconteceu em 2007, e das Diretrizes da CNBB para 2008 a 2010, a Igreja abraçou como prioridade, a Renovação Paroquial, dando pistas para que as nossas paróquias se tornassem mais missionárias. Você pode perceber quais os caminhos que a nossa diocese tomou:
• As paróquias renovaram os Conselhos Paroquiais. Muitas não funcionavam bem. Todas passaram a dar importância ao CPP e o CAE nas decisões comunitárias.
• O Documento de Aparecida passou a ser instrumento juntamente com as Diretrizes, pelos padres, nas foranias, e polos leigos, nos conselhos,
• A Equipe Missionária Diocesana começou a estudar uma proposta adequada à nossa realidade, preparou os primeiros missionários e deu início ao itinerário missionário nas Paróquias. Algumas paróquias deram passos concretos na linha missionária, incluindo a formação de leigos, visitação, introdução da Infância e Adolescência Missionária, Visita da Imagem de Nossa Senhora D’ Ajuda entre outras iniciativas.
• A Pastoral Familiar começou pelo estudo das Diretrizes, e tem marcado presença nas paróquias, nas celebrações da Semana da Família, no Congresso da família, no dia do nascituro e outras ocasiões. O Encontro de Casais com Cristo e Cursilho de Cristandade já foram implantados em diversas paróquias. Há um esforço de repensar e melhorar os Encontros de Noivos e Batismo, e começa a preparação para acolher os casais em segunda união.
• Alguns movimentos e grupos adotaram o modo da Leitura Orante da Bíblia e já percebem os frutos dessa prática.
• As Diretrizes Sacramentais Diocesana e do Conselho Econômico e Pastoral começou a ser mais conhecido e colocado em prática.
Há outros tantos pontos de renovação que aconteceram nestes anos. Cito apenas estes, por estarem mais ligados às "pistas" de ação evangelizadora Diocesana. Estes, contudo, já demonstram que grandes passos estão sendo dados na linha da renovação paroquial.
O que poderia ser melhor
Tivemos também dificuldades, especialmente nas áreas de Iniciação à Vida Cristã e Grupos de Reflexão. A Iniciação à Vida Cristã, grande bandeira do Ano Catequético, ainda não foi assimilada na maioria das paroquias. Os pequenos grupos que o Documento de Aparecida propõe, para que a Paróquia se torne uma "rede de comunidades", Em nossa diocese já vivemos esta realidade desde o dia da fundação da diocese... Faz-se necessária uma mudança de mentalidade dos lideres de grupo e pastoral, do clero, do povo cristão. E isso acontece aos poucos. Há que preparar o terreno, colocar a semente, esperar e confiar no Espírito Santo, que é ele quem conduz a nossa Igreja. É o sopro do Espírito que está nas palavras do Documento de Aparecida pedindo para empreendermos o caminho missionário. A Catequese do Brasil sugere que se faça a experiência de formar discípulos através do itinerário da Iniciação. A Igreja vem agora dizer que a força unificadora para levar adiante a renovação paroquial é a Palavra de Deus, que nos coloca em contato direto com Jesus Cristo, A afirmação mais clara e insistente, é de que não acontecerá renovação alguma nas nossas paróquias, sem uma aproximação intensa, orante e definitiva com Jesus Cristo e sua Palavra. Se abrirmos caminho para a Palavra, vivida e transformada em oração, se nos tornamos, de fato, discípulos da Palavra, a renovação pastoral virá. Caso contrário será apenas mais um plano de estratégias e métodos, desses que vêm e depois desaparecem como fumaça:
Vamos pensar juntos
Temos que ir amadurecendo as ideias, preparando o terreno para viver o que vamos decidir em nossa Assembleia Diocesana. Daí a importância de começarmos desde já a colher sugestões, conversar em nossos conselhos, trocar ideias nos movimentos, serviços e grupos de pastoral. Sugiro aqui alguns pontos:
1. A Bíblia - Além das leituras ouvidas nas missas e cultos dominicais, quais as ocasiões de contato com a Palavra de Deus que acontecem nos seus movimentos, comunidade local? Você já participou de algum curso bíblico promovido regularmente pela paróquia ou por algum movimento? Quem quer conhecer mais a Bíblia encontra na Paróquia o que procura? As equipes de pastoral, os movimentos, têm a Bíblia como livro de orientação e oração, para iluminar suas atividades? Os Grupos de Reflexão Permanentes são acompanhados na sua paróquia? Contam com incentivo? Como podem ser multiplicados e alimentados? Há pessoas habilitadas para orientar esses grupos? Como fazer chegar a Bíblia até os mais pobres, para os quais o preço é inacessível e a leitura é difícil? Os adolescentes e jovens que terminam a catequese, continuam a ter contato com a Bíblia? Que caminhos podemos abrir para que os fiéis cheguem ao alimento da Palavra de Deus?
2. A Iniciação - O itinerário da Iniciação à Vida Cristã Depois disso foi tema de palestras, estudo dos Catequistas, quem sabe tema de leituras e entrevistas nas revistas cristãs e nas TVs católicas. Você sabe o que é iniciação? Sua comunidade tem atividades que levam a uma verdadeira experiência de encontro com Jesus Cristo vivo, a uma paixão pelo Reino de Deus? Quais são essas experiências e quais os resultados? Precisam de iniciação ao Mistério de Cristo não só os que ainda não ouviram falar dele, mas também aqueles que já receberam os sacramentos, mas vivem sua fé sem entusiasmo e sem compromisso de discípulos. É preciso reavivar o dom do encontro com Cristo vivo. Por onde começar? Que caminhos podem nos levar a essa iniciação de toda a comunidade paroquial?
3. Conversão pastora l- O Documento de Aparecida (DA,365ss), chama de "conversão pastoral" a decisão corajosa de abandonar aquilo que não favorece a transmissão da fé, dedicando espaços e recursos a novas formas de evangelizar. O que precisaria ser abandonado? Que novas formas de evangelização podem ser propostas? Paróquia deve ser comunidade missionária?
Considero que é necessário a “conversão missionária” das organizações e estruturas pastorais, em particular da paróquia, com tudo o que ela significa.
A paróquia deve-se tornar mais “comunidade de comunidades, grupos, associações, movimentos e organizações de discípulos missionários, que nela vivem e se expressam”.
Vejo a necessidade de se tomar uma nova consciência sobre a realidade da paróquia, no sentido teológico e pastoral, superando uma visão apenas burocrática ou jurídica.
“Ela é o rosto mais visível e concreto do Mistério da Igreja, ‘sacramento de salvação’ no meio do mundo; é uma comunidade de batizados, congregados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, vivendo a fé, a esperança e a caridade.”
A paróquia “se reúne em torno de Jesus Cristo, Senhor e Pastor da Igreja, representado visivelmente pelo ministro ordenado, que está no meio dela e à sua frente para servi-la na caridade. A assembleia eucarística é a expressão mais visível e sacramental da Igreja”.
A paróquia é, portanto, “casa de Deus’ no meio das casas dos homens, templo de Deus edificado por pedras vivas, que são todos os batizados; é o ‘corpo de Cristo’, através do qual ele continua a se expressar (...); é o concreto e visível ‘povo de Deus’, que irradia no mundo a luz de Cristo”.
Na paróquia, a Igreja inteira se expressa e realiza a missão recebida de Cristo: “anunciar e acolher a Palavra de Deus; testemunhar a vida nova recebida no Batismo, buscando e expressando a santidade de vida; organizar e realizar a caridade pastoral, em nome de Jesus, Bom Pastor, e a seu exemplo”.
Uma definição que cabe bem à paróquia é de “comunidade missionária dos fiéis em Cristo no meio do mundo”.
A paróquia “é o ícone visível daquilo que a Igreja de Jesus Cristo é na sua totalidade. Evidentemente, nenhuma paróquia se basta a si mesma, nem realiza sozinha e autonomamente a sua missão, mas o faz na comunhão da Igreja particular (a diocese) e da comunhão universal da Igreja”.
Contudo, a paróquia “é a Igreja ‘na base’; se ali a vida e a missão da Igreja acontecem, também na grande comunidade eclesial elas acontecem; do contrário, a Igreja corre o risco de ‘rodar no vazio’ e de se reduzir a uma série de instituições, sem chegar ao povo e às pessoas concretas”.
4. Soma e divisão - Há uma percepção generalizada de que as pastorais, os movimentos de espiritualidade, os diversos segmentos das comunidades paroquiais não atuam articulados, como uma família, mas isoladamente, como se cada um cuidasse só do seu pequeno canteiro. Isso enfraquece a vida comunitária e até pode ser fonte de tensões e conflitos. Se existem esta divisão, quais as razões? . Que ações favorecem a superação dessa dificuldade?
5. Formação - Vivemos em tempos de rápidas mudanças. Impossível acompanhá-las sem uma permanente formação pessoal e comunitária. Todos sabem que a formação exige um tempo de que não dispomos, recursos que não temos suficientes, pessoas preparadas, que são raras e muito ocupadas. Tudo isso levado em conta, não podemos viver sem ela. Sua comunidade oferece oportunidade de formação? Reserva recursos pra isso? Oferece, mas não há pessoas interessadas? Que fazer para tornar mais sólido o conhecimento e o compromisso com a fé?
Estou deixado inúmeras perguntas em aberto, nem sempre fáceis de encontrar respostas, concordo. Podem até deixar uma sensação de incerteza e desconforto. Mas podem provocar-nos a tentar novas estradas, sem medo e sem desânimo. Confio nisso, e também naquele que disse: "Eu estou convosco todos os dias (Mt 28,20)". Portanto a sua Palavra não é para nós uma lembrança do passado. Ele nos convoca hoje. E essa Palavra deverá nos mover para a renovação que buscamos.
Sobre o futuro
Igrejas, ministérios, organizações têm se voltado para a juventude. A necessidade de uma linguagem específica para este público, a renovação das lideranças, o potencial conflito entre gerações, o desejo de resguardar os jovens dos apelos mundanos são alguns dos motivos para tal olhar.
Os jovens vêm de fato ocupando espaços importantes como promotores do reino de Deus. Muitos se sentem chamados e desejosos de servir a Deus em ministérios específicos, em missões e em suas profissões. Outros talvez mais convencidos do que a geração anterior sobre as consequências do mandato cultural, sentem-se vocacionados a servir a Deus na arte, política, ciências sociais, música, literatura etc. Estes precisam de oração, "envio" e acompanhamento tanto quanto aqueles.
Alguns jovens naturalmente desejam introduzir novidades na Igreja: na forma de se relacionarem, nas noções de autoridade e hierarquia, na liturgia etc. Eles precisam ser escutados e, algumas vezes, confrontados.
Os jovens que estão titubeantes na fé devem ser primordialmente, acolhidos. Eles precisam de espaço para questionar sem ser rechaçados, buscando assim respostas em campo seguro. Os que vivenciam conflitos por causa de sua conduta moral precisam de abertura para conversas francas. Os que buscam a igreja principalmente como espaço de apoio emocional precisam ser desafiados a uma fé mais profunda.
Em todos os casos, a Igreja precisa fazer questão de estar com os jovens. E os jovens precisam fazer questão de estar com a Igreja. Jesus planejou uma Igreja intergeracional, em que velhos, adultos, jovens e crianças compartilhem entre si suas experiências únicas e adorem a Deus juntos com a humanidade e a grandeza próprias de cada fase da vida.
O tempo não para; os jovens, sempre os teremos conosco. Cada geração levantará questões à geração seguinte. A respeito dos jovens e adolescentes de hoje, poderíamos perguntar:
Serão profundos conhecedores da Palavra de Deus? Serão corajosos o suficiente para assumir uma fé exclusiva, num ambiente cada vez mais plural e relativista? Deixarão que as marcas de uma sociedade que se guia pelo mercado pautem as suas prioridades e suas agendas? Conseguirão não se deixar levar pela força de um evangelho adocicado, que faz bem apenas às emoções? Anunciarão o evangelho? Serão melhores promotores da justiça do reino? Estarão dispostos a sofrer por Cristo? Serão menos sectários? Caminharão um pouco mais na direção da unidade da igreja? Permanecerão firmes na moral cristã? Criarão seus filhos e suas filhas no caminho do Senhor? O que farão com a história das gerações que os precederam?
Essas perguntas podem contribuir para a pauta a ser elaborada pelas Paroquias e ministérios com e para os jovens. Abrir-se para os jovens é abrir-se para o novo. E mesmo que o novo pareça ameaçador, ele é fonte de renovação.

Eunápolis, 10 de Novembro de 2010.
Dom José Edson Santana Oliveira.
Bispo diocesano de Eunápolis.
Costa do descobrimento.
Até o dia 26 de novembro, na Casa de Retiro Sagrado Coração de Jesus, das Irmãs Missionárias Servas do Senhor.

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